// PARQUE ESCULTÓRICO “DANÇA DAS NUAS” DO ARTISTA PLÁSTICO CUSTÓDIO ALMEIDA
…a DANÇA DAS NUAS
«As “Nuas” correspondem a Dez artefatos de estatuária original, enérgica e meticulosamente esculpidos em granito.
Trata-se de um conjunto monumental, implantado em território de ar-livre, adquirido pelo autor e situado nas imediações (ou no prolongamento espacial) do seu atelier.
Traduz-se pela composição duma estrutura radial espontânea (semi-aleatória) preenchida por vultos visionários, concebidos na corporalização pétrea de 10 Mulheres (míticas). Uma alegoria que visará ‘retratar’ a Ceifa Anual (simbólica da ancestral Época das Colheitas).
365 Flores simbólicas acompanham, em desenvolvimento idêntico, as longas pontas cónico-piramidais que as coroam, culminando a morfologia das suas formas.
Divindades de um misterioso imaginário ancestral, espontânea e, visualmente, esculpido diretamente na pedra, pelo escultor, interpretam um bailado apoteótico que celebra a própria nudez, mental e corpórea, do autor que lhes deu forma.
O seu movimento – estática e, tridimensionalmente, detido, em singular momento físico (quiçá metafísico) – constitui-se num poderoso registo de marcas e sinais crípticos, de forte expressão interrogatória, enunciada em todas as direções e sentidos, apontados pelos seus múltiplos olhos ou botões, na simultaneidade representativa de 365 dias/flor de um ano solar.
Serão, presuntivamente, Perguntas includentes de uma profunda carga metafísica, apontada à complexidade dos fenómenos atmosféricos e às causas multimilenares das mutações climáticas, terrestres, ao longo de gerações infindas na evolução das espécies, nesta Nave dos Homens.
Parte de um Todo, na sua globalidade, cada uma dessas 10 peças monumentais ousará formular, possivelmente, na íntima relação de nudez – com as restantes e com a do seu autor – uma interrogação hiperdimensional, na Dança epicêntrica deste conjunto escultórico.
Como se fosse – neste, ou num mundo simultâneo (paralelo, no Tempo) – um observatório ou o conjunto escalar de uma Máquina de Comunicar, reduzida à altura deliberada de 13 metros, exponencialmente elevado ao intransponível valor numérico da Eternidade, projetada no Infinito cósmico.»
José-Luis Ferreira – Caramulo, 2015 26 de Outubro
// O FEITIÇO DA PEDRA
As pedras, dizem os mestres, tem todas uma escultura lá dentro. Claro que é preciso esquarteja-las, tirar-lhes a casca, e deixar o miolo refazer a criação do sentimento, da ternura ou do espanto, da raiva ou do amor, com que olhamos para elas.
O Custódio de Almeida é um escultor primordial que olha as pedras com a intimidade que se tem com as coisas que conhecemos no berço, e a que depois nos amparamos para dar os primeiros passos. Essa intimidade criou nele os direitos e deveres dessa paixão, como também criou os
afectos e os ódios com que foi construindo vida e obra, indissociáveis uma da outra.
Eu gosto das esculturas do Custódio. Vejo nelas a exaltação primitiva da arte, -essa caixa mágica de todas as dores e alegrias – vejo nos escultores deste culto, a raiz da sua própria humanidade, o gesto dum altruísmo quedispensa academias, e se mede com as forças do corpo
que a si, e por si mesmo, se reproduz e retrata.
O círculo escultural que o Custódio montou em Santa Cruz é um admirável exercício de solidão e partilha, é um gesto de profunda generosidade. Como uma reunião de Druidas que espera em silêncio pelo julgamento dos céus, são vultos silenciosos que apaziguam a paisagem e fazem saber que a obra do homem faz parte do acabamento danatureza, nela convive se funde e sepulta.
Mestre Homem Cardoso – Lisboa, 16 de Fevereiro de 2011